blog

Dependência química – Transtornos mentais

Leia mais sobre o assunto:
  • Facebook
  • WhatsApp
  • Linkedin

Os problemas resultantes do mal uso de substâncias são mais extensos atualmente, talvez pelo aumento da disponibilidade e pelo crescente número de drogas. As disfunções relacionadas às drogas ocorrem em todos as culturas e segmentos sociais. Todos os grupos de idade são afetados podendo se tornar dependente químico.

Todas as drogas que são consumidas em excesso têm em comum a ativação direta do sistema de recompensa do cérebro, produzindo sensações de prazer, frequentemente denominadas de “barato” ou “viagem”. Tal ativação é tão intensa, que o indivíduo pode negligenciar atividades normais de autocuidado.

Substâncias psicoativas são componentes que podem alterar o estado mental do paciente. 

Ocorre uma interação de fatores biológicos e fatores ambientais na etiologia de transtornos por uso de substâncias. 

Os transtornos causados por substâncias são:

  • intoxicação aguda: condição transitória que segue o consumo da droga e que pode resultar em perturbações do nível de consciência (sonolência), cognição e percepção (alucinações) e alterações de comportamento (agitação, agressividade, perda da capacidade de julgamento);
  • uso nocivo ou abusivo da substância: padrão de uso da substância que causa dano a saúde, funções (negligência de obrigações profissionais ou familiares) ou relacionamentos do indivíduo;
  • dependência : forte desejo ou compulsão para consumir a substância, uso de quantidade maior que pretendia usar, dificuldade de controlar o consumo da substância, sintomas de abstinência quando o uso é interrompido ou reduzido, tolerância (são necessárias doses maiores para alcançar os mesmos efeitos), abandono progressivo de atividades prazerosas ou outros interesses;   
  • transtornos psiquiátricos induzidos por substâncias:

Os transtornos relacionados a substâncias podem ser causados pelas seguintes drogas: 

  • álcool;
  • cafeína;
  • canabinóides, como maconha, haxixe e skunk;
  • alucinógenos, como LSD, ayahuasca (santo daime), mescalina, psilocibina, fenciclidina;
  • solventes voláteis ou inalantes;
  • opióides como heroína e analgésicos derivados de opióides (morfina, meperidina, codeína);
  • sedativos, hipnóticos e ansiolíticos;
  • estimulantes, como cocaína, crack e anfetaminas;
  • tabaco;
  • anabolizantes.

O álcool

É ainda a principal substância psicoativa. Atrás apenas de doenças cardíacas e câncer, os transtornos relacionados ao álcool são o terceiro maior problema de saúde. Cerca de ⅔ dos adultos americanos ocasionalmente consomem bebidas alcoólicas e 12 a 14% faz uso abusivo ou é dependente de álcool. (Leia mais sobre : Causas e consequências do alcoolismo.)

É mais comum no sexo masculino: para cada mulher com dependência de álcool, há 4 homens. As causas comuns de morte de indivíduos com transtornos pelo uso de álcool são: suicídio, câncer, doença cardíaca e doença hepática.

Tanto durante a intoxicação como durante a abstinência de álcool, o paciente pode apresentar euforia, agitação, sintomas psicóticos, depressivos e ansiosos, alterações de sono, disfunção sexual e prejuízo nas habilidades motoras.

Cafeína

Em uma intoxicação por cafeína, o paciente pode apresentar sintomas de ansiedade e alteração de sono. Não é descrito transtorno por uso de cafeína, mas sintomas de abstinência são descritos (dor de cabeça, cansaço, irritabilidade, prejuízo psicomotor, náuseas, fissura).

Maconha

A Cannabis, cânhamo ou maconha é a droga ilegal mais usada no mundo, sendo que o número de usuários estimado em 2012 foi de 19 milhões; é a quarta substância psicoativa de uso mais comum entre adultos, atrás de cafeína, álcool e nicotina.

Durante a intoxicação por maconha, o usuário pode apresentar euforia, sensação de bem estar, percepção subjetiva de lentidão do tempo, hipersensibilidade a estímulos ambientais, sintomas psicóticos (delírios e alucinações), ansiosos (inquietação, ataques de pânico) e alterações de sono.

Há prejuízo nas habilidades motoras, que perdura mais tempo que os efeitos subjetivos e eufóricos. Já na abstinência, costuma-se ocorrer irritabilidade, inquietação, insônia, diminuição do apetite e náusea. O uso medicinal da maconha se restringe ao tratamento de náuseas e inapetência em pacientes em quimioterapia, esclerose múltipla, dor crônica, epilepsia e glaucoma.

Os alucinógenos

Os alucinógenos são substâncias naturais e sintéticas chamadas de psicodélicos ou psicomiméticos porque induzem alucinações, perda do contato com a realidade e experiência de expansão e intensificação da consciência. Alucinógenos naturais são: psilocibina (de alguns cogumelos), mescalina (do cacto peiote), ibogaína, harmina, harmalina e dimetiltriptamina. Alucinógenos sintéticos são: LSD (dietilamida do ácido lisérgico), fenciclidina (“pó de anjo”) e a cetamina. 

Drogas inalantes

Drogas inalantes são hidrocarbonetos voláteis que se tornam vapores gasosos em temperatura ambiente e são inalados pelo nariz ou boca para entrarem no fluxo sanguíneo por via pulmonar. Exemplos de drogas inalantes são: cola de sapateiro, éter, lança perfume, diluentes para tintas, tinta em aerossol. Em geral, agem como depressores do sistema nervoso central. 

Opióide

A droga opióide associada com maior frequência a abuso e dependência é a heroína, contudo opióides prescritos para finalidades analgésicas como morfina, meperidina, codeína e metadona também têm alto potencial de causar tais transtornos. Estas drogas causam dependência facilmente devido ao “barato” eufórico que os usuários experimentam. Durante a intoxicação, costumam causar sintomas depressivos, alterações de sono, disfunção sexual e alteração do nível de consciência. Os sintomas de abstinência costumam ser intensos e englobam humor depressivo, ansiedade, agressividade e insônia. Uma curiosidade que é que temos em nosso organismo peptídeos com ação semelhante aos opióides: os chamados opióides endógenos (endorfinas, encefalinas e dinorfinas), envolvidos na transmissão neuronal e supressão da dor. 90% dos pacientes com dependência de opióides apresentam outro transtorno psiquiátrico e 15% desses indivíduos tentam suicídio pelo menos uma vez.

A dependência química de sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos

É mais frequentemente observada com as drogas benzodiazepínicas (midazolam, clonazepam, flurazepam, flunitrazepam, diazepam, alprazolam, lorazepam e clordiazepóxido). Sedativos não benzodiazepínicos como zolpidem, eszopiclona e zaleplona têm efeitos clínicos semelhantes e também estão sujeitos ao uso indevido e dependência. Assim como o álcool e inalantes, os sedativos podem resultar em déficits cognitivos (alterações de atenção, concentração e memória) permanentes, ou seja, mesmo quando o uso cessa.

Drogas estimulantes

Como anfetaminas e cocaína (inclusive o crack), são drogas passíveis de dependência e têm efeitos semelhantes no organismo humano. 

Os estimulantes do tipo anfetaminas incluem anfetamina, dextroanfetamina, metanfetamina e metilfenidato; podem ser consumidos por via oral, endovenosa e nasal. Estão entre as substâncias ilícitas mais utilizadas, perdendo apenas para cannabis em grande parte do mundo ocidental. As indicações clínicas aprovadas pelo FDA e ANVISA para o uso de anfetamina, dextroanfetamina e metilfenidato são  tratamento de TDAH e narcolepsia mas tais drogas também podem ser usadas de forma offlabel para tratamento adjunto de obesidade e depressão refratária. A modafinila, usada para tratamento de narcolepsia, costuma ter um efeito estimulante mais modesto. A metanfetamina (MD) é uma forma potente de anfetamina usada por inalação, fumo e injeção endovenosa; seus efeitos duram horas e costumam ser particularmente fortes. As anfetaminas produzem seus efeitos ao causarem liberação excessiva de dopamina na região cerebral chamada de circuito de recompensa (neurônios que saem da área tegmentar ventral e se projetam para o córtex cerebral e áreas límbicas); a ativação desta via provavelmente é o mecanismo pelo qual os estimulantes causam dependência. As anfetaminas têm ação mais prolongada e são menos aditivas que a cocaína.

A cocaína

É um alcalóide derivado da planta Erythroxylum coca, nativa da América do Sul, e pode ser consumida por meio de diversas preparações (folhas de coca, pasta de coca, cocaína em pó – cloridrato de cocaína – e crack), por via inalatória, endovenosa (o pó pode ser dissolvido em água) ou fumada. 

Indivíduos expostos podem desenvolver transtorno por uso de estimulantes em apenas 1 semana, embora o início nem sempre seja tão rápido. Independente da via de administração, ocorre tolerância com o uso repetido, ou seja, são necessárias doses cada vez maiores para obter o mesmo efeito. Doses altas de estimulantes costumam induzir comportamento agressivo, ansiedade intensa (que se assemelha a um transtorno de pânico) e sintomas psicóticos (como delírios paranóides) durante o efeito. Sintomas de abstinência são:  sonolência excessiva, irritabilidade, humor depressivo e aumento de apetite.

O tabaco

É uma droga legal e transtorno por uso de tabaco está entre as dependências de substâncias mais prevalentes, mortais e caras. Não há alterações comportamentais com o uso do fumo, então poucos indivíduos dependentes buscam ou são encaminhados para tratamento psiquiátrico; grande parte dos fumantes que abandona o vício, o faz sem tratamento. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que haja 1 bilhão de fumantes em todo o mundo e que eles fumem 6 trilhões de cigarros por ano. O tabagismo é a principal causa de morte evitável em todo o mundo, responsável por 63% dos óbitos evitáveis relacionados a doenças crônicas não transmissíveis (câncer de pulmão, garganta, bexiga e pâncreas, doença pulmonar obstrutiva crônica – enfisema e bronquite -, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral e outras doenças vasculares).

Tabaco leva à morte

A OMS também estima que o tabaco seja responsável pela morte de mais de 3 milhões de pessoas a cada ano. O índice de interrupção do tabagismo é mais elevado entre homens com maior escolaridade e é mais baixo entre mulheres, negros, adolescentes e indivíduos com baixos níveis de escolaridade. A maneira mais comum de consumo de tabaco é fumar cigarros e, então, em ordem decrescente, charutos, rapé, fumo de mascar e cachimbo. A prevalência do tabagismo vem diminuindo ao longo dos anos no Brasil; dados de 2013 apontam que 15% dos brasileiros são dependentes de tabaco, sendo 19% dos homens e 11% das mulheres.

O componente psicoativo do tabaco é a nicotina, que além de ativar o sistema dopaminérgico de recompensa, causa aumento nas concentrações de noradrenalina e adrenalina circulantes e na liberação de vasopressina, endorfinas e outros hormônios. A grande maioria dos tabagistas relata fissura pela substância quando deixam de fumar por várias horas; os sintomas de abstinência mais comuns são ansiedade, irritabilidade e dificuldade de concentração; insônia e humor depressivo também podem ocorrer. Quando é necessária a ajuda profissional para o indivíduo parar de fumar, terapia com reposição de nicotina (adesivos e gomas) e medicamentos podem ser utilizados. 

Os esteróides anabólicos androgênicos, conhecidos simplesmente como anabolizantes, são utilizados no tratamento de homens com hipogonadismo (quando os testículos não produzem quantidade suficientes de hormônios sexuais) e na perda muscular grave em pacientes com AIDS. Porém tais hormônios são amplamente utilizados de forma ilícita, sobretudo por meninos e homens jovens que buscam ganhar massa muscular e força. A frequência do abuso em mulheres é menor mas vem crescendo nos últimos anos. O abuso de esteróides está associado a: atrofia testicular, esterilidade, aumento do colesterol LDL (ruim) e da pressão arterial, diminuição do colesterol HDL (bom), acne, calvície, masculinização (aumento de pelos e voz grave); há relatos de casos isolados de infarto do miocárdio, cardiomiopatia, acidente vascular cerebral e morte. 

Os esteróides podem inicialmente induzir euforia, hiperatividade, hostilidade, ansiedade e sintomas depressivos sobretudo em épocas que não estão sendo utilizados. Há relatos de sintomas maníacos, hipomaníacos e psicóticos.

Compartilhe
  • Facebook
  • WhatsApp
  • Linkedin

Veja também